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27/03/2017

Tecnisa recorreu a novo aumento de capital

O volume de rescisões correspondeu a 40% das vendas brutas de R$ 19,095 bilhões do setor em 2016. As vendas líquidas das incorporadoras caíram 12%, para R$ 11,45 bilhões

Nove meses após anunciar aumento de capital de R$ 200 milhões, a Tecnisa divulgou que fará nova capitalização, desta vez no valor de até R$ 150 milhões. A necessidade de a incorporadora fazer outra chamada de recursos ocorre em momento em que os resultados do setor continuam muito pressionados por elevadas rescisões de vendas. Em teleconferência com o mercado, na sexta-feira, o presidente da Tecnisa, Meyer Nigri, contou que distratos acima do esperado em 2016 e vendas menores do que as projeções resultaram na necessidade de nova capitalização.

"Fizemos aquele aumento de capital, no ano passado, com base nas projeções na época", disse Nigri, ao ser questionado sobre o dimensionamento da capitalização realizada em 2016. O empresário disse que a companhia esperava que a regulamentação das rescisões ocorreria do meio para o fim do ano passado, mas a questão ainda não está definida.

Considerando-se somente a parte própria das companhias, os distratos da Cyrela, Direcional Engenharia, Even Construtora e Incorporadora, EZTec, Gafisa, Helbor, MRV Engenharia, Rodobens Negócios Imobiliários (RNI), Rossi Residencial, Tecnisa, Tenda e Trisul somaram R$ 7,639 bilhões no ano passado, segundo levantamento realizado pelo Valor. O volume de rescisões correspondeu a 40% das vendas brutas de R$ 19,095 bilhões do setor em 2016. As vendas líquidas das incorporadoras caíram 12%, para R$ 11,45 bilhões.

Nigri defende que não deveria haver o direito de distrato de compra e venda de imóveis. Segundo ele, se existir direito da desistência, a opção tem de ser bilateral, ou seja, do comprador e do vendedor.

Em 2016, a Tecnisa lançou R$ 395,04 milhões, o correspondente a 18 vezes o Valor Geral de Vendas (VGV) de R$ 21,88 milhões no ano anterior. As vendas líquidas tiveram queda de 28,3%, para R$ 371,65 milhões. As rescisões chegaram a R$ 585,32 milhões. A receita líquida caiu 73,5%, para R$ 328,68 milhões. A Tecnisa teve prejuízo de R$ 448,98 no ano, com perda de R$ 251,54 milhões concentrado no quarto trimestre. O prejuízo trimestral da companhia resultou de menos diluição dos custos fixos na receita e de provisões de R$ 117 milhões.

No fim de 2016, a alavancagem da Tecnisa medida por dívida líquida sobre patrimônio líquido era de 61,7%. Se os R$ 150 milhões do aumento de capital tivessem entrado no caixa da companhia no quarto trimestre, a alavancagem cairia para 46%. Segundo Nigri, a Tecnisa quer deixar de tomar dívidas caras e pretende pagar parte delas.

O controlador e sua família se comprometeram a subscrever R$ 73,575 milhões no aumento de capital, mantendo sua participação na companhia, de quase 50%.

A Cyrela também tem intenção de continuar com a fatia que tem na Tecnisa, de 13,62%. De acordo com o diretor de relações com investidores da Cyrela, Paulo Gonçalves, a companhia vai participar do aumento de capital desde que alguns detalhes sejam acertados. Nenhuma das duas companhias informou quais são esses detalhes. Na capitalização do ano passado, a Cyrela fez aporte de R$ 75 milhões na Tecnisa.

Segundo o diretor financeiro e de relações com investidores da Tecnisa, Flavio Vidigal, a operação, anunciada na noite de quinta-feira, permite fortalecer a estrutura de capital da companhia e a execução do plano de negócios "com mais fôlego".

A Tecnisa tem focado as atenções também na redução das despesas gerais e administrativas para R$ 75 milhões no fim de 2017 e de R$ 60 milhões no encerramento do próximo ano. A diminuição dessas despesas considera patamar operacional de R$ 1 bilhão da companhia. Em 2016, a Tecnisa reduziu as despesas gerais e administrativas em 32%, para R$ 113 milhões, para adequar custos.

A incorporadora, que entregou R$ 2,2 bilhões no ano passado, estima encerrar o ciclo de obras até o fim de 2017, com a conclusão de projetos que somam R$ 1 bilhão. A tendência é que os distratos diminuam neste ano, de acordo com Vidigal. A Tecnisa continuará a vender terrenos considerados não estratégicos.

FONTE: VALOR ECONôMICO