A empresa paranaense de tecnologia construtiva Tecverde foi contratada de forma emergencial pelo governo do Estado de São Paulo para fazer 518 unidades habitacionais em São Sebastião, no litoral norte paulista.
As moradias vão atender as pessoas atingidas pelos deslizamentos de terra que ocorreram no Carnaval na Vila do Sahy.
Segundo a Tecverde, serão construídos 30 prédios, com térreo e mais três andares, que somarão 480 apartamentos, além de 38 casas. As unidades terão de 41 a 47 metros quadrados. O preço médio de cada moradia será de cerca de R$ 138 mil, o que totaliza um contrato de cerca de R$ 71,5 milhões.
A contratação foi anunciada no dia 13 de março pelo governador Tarcísio de Freitas, e envolve também a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU). As novas moradias serão construídas em dois terrenos no bairro Baleia Verde, a dois quilômetros da Vila do Sahy.
A companhia faz edificações em “wood frame”, método de construção industrializada que usa placas com camadas de madeira tratada especialmente para esse uso, que depois são revestidas com outros materiais, como “dry-wall” e placas cimentícias. A madeira utilizada nas construções é pinus, de florestas plantadas.
A maior velocidade para construir foi um fator determinante para que a Tecverde conseguisse o contrato. As peças da estrutura vêm prontas da fábrica da companhia, em Araucária (PR), vizinha de Curitiba, e só precisam ser encaixadas no canteiro. Esse método demanda também menos mão de obra e deslocamentos de funcionários. Stael Xavier, diretora comercial, afirma que as construções em “wood frame” possuem a mesma durabilidade que as de alvenaria.
Segundo o CEO da companhia, Ronaldo Passeri, as unidades devem ficar prontas em seis meses após o início das obras. O prazo é bem menor do que os usuais três anos utilizados na construção tradicional, ou os 18 meses adotados por incorporadoras que fazem habitação econômica com paredes de concreto, que já é um método mais ágil.
Não é a primeira obra pública da Tecverde. A empresa foi contratada pelo governo estadual do Paraná para refazer 321 salas de aula que estavam em más condições de uso. As antigas classes, também de madeira, mas feitas nos anos 1970 e 1980, serão substituídas ao longo de um ano.
A empresa atua também no programa Minha Casa, Minha Vida - já fez moradias para a MRV e para a Tenda, antes que a última abrisse sua própria marca de casas em “wood frame”, a Alea.
Em julho do ano passado, a Tecverde anunciou um novo modelo de casa econômica que pode ser montado no canteiro em apenas um dia. O nível de industrialização do processo passou de 75% para 85%. “Quando se olha para outras técnicas, como a parede de concreto, a industrialização já está no limite”, afirma Xavier. “Nós ainda temos coisas que podemos trazer e incrementar nesse sistema, desde que tenhamos incentivos corretos e demanda garantida”.
A Tecverde foi fundada em 2009 e desde o fim de 2019 é controlada pela E2E, joint venture entre a fabricante de materiais de construção Etex e a empresa florestal Arauco. O faturamento foi de cerca de R$ 200 milhões em 2022, mas a Tecverde ainda trabalha com um terço da capacidade da fábrica. “Estamos em fase de ‘scale-up’, construindo mercado”, diz o CEO.
Um problema que a companhia enfrenta, comum ao setor de construção industrializada, são os impostos. Como explica Passeri, o arcabouço tributário para a construção é pensado para o que é feito no canteiro, mas a situação de uma empresa como a deles é diferente.
“Chegamos a perder de 10% a 15% de competitividade, porque não somos método tradicional de construção”, afirma. Isso ocorre, segundo ele, porque a empresa não consegue se classificar no Regime Especial de Tributação (RET), que atende incorporações imobiliárias. Os executivos têm esperança de que isso mude com a reforma tributária.
Passeri conta que a E2E leva conhecimento para construção em “wood frame” desenvolvido no Brasil para o Chile, onde também atua com tecnologia construtiva. CEO da Tecverde desde 2021, ele veio das acionistas quando foi feita a aquisição do controle da companhia paranaense. “O negócio da Arauco é chapa de madeira, ela é um dos principais fornecedores para essa indústria, mas precisa conhecê-la para poder preparar e aprimorar o seu produto”, afirma. “A ideia [do negócio] era fazer complementariedade com o conhecimento industrial”.
A Tecverde tem quatro fundadores, que eram universitários quando começaram o negócio, e seguem na empresa. Xavier, que está na companhia há 10 anos, conta que a Tecverde vivia de editais de inovação até receber investimento de R$ 20 milhões da GEF Capital, em 2016, por 40% de participação no negócio. Em 2017, a Performa Investimentos também comprou 19% de participação na empresa. Ambos saíram com a chegada da E2E.