Sérgio Tauhata
Achar que as aplicações indexadas ao Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI) ou à taxa básica Selic são todas iguais pode criar uma armadilha que vai além da rentabilidade. Riscos de crédito, de emissão e horizonte de investimento mudam de acordo com o produto e devem ser considerados na hora de optar por uma letra de crédito imobiliário (LCI), um certificado de depósito bancário (CDB), uma letra financeira do tesouro (LFT), um fundo DI ou qualquer tipo de papel pós-fixado.
Na avaliação de Marcos Daré, diretor de investimentos do Bradesco, é preciso definir o perfil do cliente antes de se oferecer qualquer tipo de investimento. "Apesar de estarmos falando de produtos conservadores, os resultados de algumas aplicações podem não estar adequados a determinados perfis", afirma.
Segundo o executivo, definir o horizonte de investimento é fundamental para montar uma carteira pós-fixada. "Se, no meio do caminho, o cliente precisa usar o recurso, ele tem de manter o dinheiro em um produto com liquidez", explica Daré.
As LCIs e LCAs, por exemplo, apesar do retorno superior devido ao benefício tributário, têm carência mínima de 90 dias. "Recurso para o curto prazo não deve ser aplicado em letras isentas, apenas o de médio prazo", recomenda Marcos Figueiredo, superintendente de produtos de investimentos do Santander.
As letras isentas costumam ter prazos entre seis meses de dois anos. Além dos vencimentos dilatados, as melhores taxas costumam ser reservadas para os clientes com mais recursos disponíveis. "A demanda por LCI e LCA sempre foi maior do que a oferta, então os grandes bancos costumam oferecer para os melhores clientes, ou seja, aqueles dos segmentos mais altos", pondera Antonio Conceição, executivo-chefe de investimentos da Fator Administração de Recursos (FAR).
As opções mais acessíveis para quem não sabe se terá de utilizar o dinheiro aplicado em prazos de menos de três meses são os fundos DI, as letras financeiras do tesouro (LFT), negociadas por meio do Tesouro Direto e os CDBs - há opções líquidas, porém com retorno menor. Os produtos, no entanto, têm diferenças entre si tanto em termos de custos quanto de riscos.
A LFT, por ser um título público, é considerada como de risco zero. As carteiras DI, por sua vez, podem embutir o chamado risco de crédito se estiverem recheadas com papéis de empresas. Os certificados bancários trazem consigo o risco do emissor, ou seja, da instituição que emitiu o papel. Mas tanto os CDBs quanto as letras isentas contam com um fator de mitigação de problemas: a cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para aplicações até R$ 250 mil.
Os fundos DI apresentam desvantagens tributárias e de custos ante os demais concorrentes. O retorno das carteiras é impactado diretamente pela taxa de administração, um percentual cobrado sobre o patrimônio sob gestão. Quanto maior a taxa, pior o retorno. "A taxa de administração dos fundos varia de acordo com o perfil da carteira e do valor da aplicação inicial", explica Edmar Casalatina, diretor de empréstimos e financiamentos do Banco do Brasil.
Segundo o executivo, no BB, a menores taxas, de 0,5% ao ano, são encontradas em fundos com aplicação mínima a partir de R$ 90 mil. Casalatina cita com opção aos investidores que não dispõem de valores tão altos os fundos de renda fixa simples, criados em outubro do ano passado como uma alternativa à poupança. "É um produto descomplicado, que não tem análise de perfil de investidor, nem assinatura do termo de adesão", afirma. No BB, a taxa de administração começa em 1,95% ao ano.
Sobre os fundos referenciados DI existe ainda uma desvantangem tributária conhecida como "come-cotas". Trata-se de uma antecipação de cobrança de IR de 15%, que recai semestralmente sobre as carteiras. O apelido faz referência à forma de cobrança do imposto: a quantidade de cotas de cada investidor sofre uma redução proporcional ao valor do tributo.
Em termos de IR, sobre a rentabilidade de CDBs, LFTs e fundos DI há a cobrança do imposto conforme uma tabela regressiva que começa em 22,5% para aplicações com prazo até 180 dias, de 20% até 360 dias, de 17,5% até 720 dias e, de 15%, acima de dois anos.
Nas LFTs, apesar de o rendimento bruto ser de 100% da Selic, há incidência de taxas de custódia, cobrada pela BM&FBovespa, de 0,3% ao ano sobre o valor do título, e de negociação, definida pela instituição financeira, que varia de 0,06% a 2%. Há corretoras, no entanto, que isentam os clientes desse custo.
Para Figueiredo, do Santander, como os retornos das aplicações mais líquidas é parecido, o que, em geral, determina a preferência é a "usabilidade". "Fundos e o CDB levam vantagem sobre o Tesouro Direto porque podem ser movimentados a partir da conta corrente e o Tesouro tem de ser feito via corretora", diz. Fundos e CDB, cita o executivo, têm ainda a vantagem do resgate automático para cobrir o uso de cheque especial.