A pressão de margens diante da alta de custos de materiais de construção levou a Tenda a dar início, em junho, a um movimento de aumento de preços de seus imóveis. No segundo trimestre, a companhia fez nova revisão de orçamentos e considerou necessário reduzir sua projeção de margem bruta para o ano. Para minimizar os impactos de custos, a Tenda antecipou o início de obras e vai substituir, quando possível, o uso de aço por materiais como fibra de vidro. A inflação dos produtos de construção foi uma das razões para o consumo de caixa no trimestre.
A Tenda elevou os preços em 4%, em junho, e 1,2%, em julho. Novos reajustes estão previstos para agosto e setembro. “Vamos testar o limite de preços”, diz o diretor financeiro e de relações com investidores, Renan Sanches. A companhia atua na faixa 1,5 e na fatia mais baixa do grupo 2 do Casa Verde e Amarela, segmentos de renda em que a maior parte dos participantes do programa deixou de operar. Justamente pela menor concorrência, a Tenda tem 85% de participação de mercado nas regiões metropolitanas em que está presente, de acordo com Sanches.
As elevações dos valores dos imóveis comercializados realizadas resultaram na queda de 5% da velocidade de vendas.
Há expectativa que os aumentos de preços possibilitem recuperação das margens no médio prazo. A margem bruta da companhia caiu 4,1 pontos percentuais, para 26,6%. A margem bruta ajustada teve queda de 4,5 pontos percentuais, para 27,8%. Desde o quarto trimestre, a Tenda tem feito revisões de orçamento devido às altas de custos de materiais. A incorporadora reduziu a projeção de margem bruta ajustada para a faixa de 28% a 30%, em 2021. A estimativa anterior era de 30% a 32%.
“Os impactos de custos foram mais severos do que era esperado quando definimos o ‘guidance’. Com aumentos de preços relevantes, temos mais chance de trazer a margem para um patamar normal em 2022. Acreditamos que estamos passando pelo vale de margem bruta”, diz Sanches.
A Tenda está antecipando a execução de várias obras e as compras de materiais, principalmente para a infraestrutura dos projetos.
O executivo cita que as maiores altas foram registradas no aço, que é também o material com maior representatividade nos custos. “Houve aumento no quarto trimestre, no primeiro e no segundo. Estamos em discussão com a Gerdau a respeito de um aumento no terceiro trimestre”, conta.
Para reduzir a dependência de produtos siderúrgicos, a Tenda vai implantar, no próximo ano, a substituição do aço por fibra de vidro nas paredes e na fundação da totalidade de empreendimentos sem elevador compostos por térreo e mais quatro andares. Esse perfil de projetos corresponde a 60% do negócio da Tenda. “Estimamos reduzir em 50% o consumo de aço nos prédios baixos a partir de 2022”, diz Sanches. Por enquanto, a substituição tem ocorrido em um percentual das obras. Nos edifícios mais altos, a Tenda utilizará, nas paredes internas, “drywall” em vez de concreto com aço.
Na construção industrializada, ou “off-site”, a companhia vai produzir casas com estrutura de madeira (“wood frame”), sem a utilização de aço. A companhia adotou a marca Alea para o segmento. A montagem das casas a partir das estruturas produzidas na fábrica de Jaguariúna (SP) começará no segundo semestre de 2022.
Além do aço, Sanches cita concreto, esquadrias de alumínio, tubos e conexões de PVC, cerâmica e madeira para portas como itens que pressionam os custos de construção. “Não existem insumos que não subiram”, diz executivo.
No segundo trimestre, o lucro líquido da Tenda caiu 16,1%, na comparação anual, para R$ 33,8 milhões. A receita líquida cresceu 32,8%, para R$ 698,8 milhões, refletindo os recordes de vendas brutas e líquidas. A Tenda elevou a estimativa de vendas líquidas, em 2021, para de R$ 3 bilhões a R$ 3,2 bilhões, ante a projeção passada de R$ 2,8 bilhões a R$ 3 bilhões. No primeiro semestre, as vendas líquidas somaram R$ 1,56 bilhão. A comercialização é mais aquecida na segunda metade do ano.