Armando Pereira Filho
Diante da economia em recessão e do cenário político conturbado, 2016 traz uma única certeza: a de que a renda fixa continuará a brilhar entre as alternativas de investimento.
Na análise de quatro especialistas consultados pelo UOL, a perspectiva de juros altos deve favorecer aplicações ligadas a juros pós-fixados, como fundos DI, títulos pós-fixados do Tesouro Direto, LCIs (Letras de Crédito Imobiliário), LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio) e CDBs.
Eis o resumo de onde investir e o que evitar:
Devem ser bons investimentos:
Tesouro Direto
CDB
Fundos de renda fixa
LCI e LCA
Devem ser ruins:
Poupança
Bolsa
Dólar
Fundos imobiliários
Imóveis
As análises foram feitas por Amerson Magalhães, diretor da Easynvest; Celson Plácido, estrategista-chefe da XP Investimentos; Leandro Martins, analista da Rico Corretora; e Michael Viriato, coordenador do Laboratório de Finanças do Insper.
ESOURO DIRETO (BOM INVESTIMENTO)
Alan Marques/Folhapress
É uma plataforma para comprar diretamente títulos do governo federal. Quem aplica R$ 30 tem a mesma rentabilidade de quem investe R$ 1 milhão.
Para curto prazo, até dois anos, os especialistas sugerem títulos pós-fixados, que seguem a taxa Selic.
"A reserva de emergência do investidor, que deve ser de seis a oito meses de sua renda, deve ficar nesses papéis pós-fixados", diz Amerson Magalhães.
Para longo prazo (como aposentadoria), a recomendação é o Tesouro IPCA+, indexado à inflação.
Para investir no Tesouro, é necessário abrir cadastro e ter conta em uma corretora ou banco. Veja um passo a passo de como investir.
O investimento paga Imposto de Renda, conforme o período de aplicação:
Até 180 dias = 22,5%
De 181 a 360 dias = 20%
De 361 a 720 dias = 17,5%
Acima de 720 dias = 15%
CDB (BOM)
O investidor deve aplicar se der um retorno acima de 95% do CDI para um ano, diz Amerson Magalhães. Bancos menores pagam melhor: segundo ele, é possível encontrar rentabilidades de até 117% do CDI.
Mas Leandro Martins lembra que altas rentabilidades podem significar altos riscos em bancos menores. Por isso, mantenha os investimentos dentro do limite de cobertura de R$ 250 mil do FGC.
O CDB não tem taxa de administração, mas paga IR, conforme o período:
Até 180 dias = 22,5%
De 181 a 360 dias = 20%
De 361 a 720 dias = 17,5%
Acima de 720 dias = 15%
FUNDOS DE RENDA FIXA (BOM)
São uma opção, mas é preciso cuidado com taxas. O recomendável em fundos DI é que a taxa de administração não passe de 1% ao ano. Faça uma boa pesquisa, diz Michael Viriato.
Os fundos pagam Imposto de Renda. Quanto menos tempo deixar o dinheiro, mais paga:
Até 180 dias = 22,5%
De 181 a 360 dias = 20%
De 361 a 720 dias = 17,5%
Acima de 720 dias = 15%
Os fundos não têm a cobertura do FGC.
LCI e LCAs (BOM)
As letras de crédito imobiliário (LCI) e letras de crédito do agronegócio (LCA) são opções para investir em renda fixa e são atraentes pela isenção do IR e garantia do Fundo Garantidor de Créditos. "Mas a potencial mudança de legislação de impostos, retirando o benefício fiscal, coloca um risco de curto prazo", diz Michael Viriato.
Outra desvantagem é que a aplicação tem prazo de no mínimo seis meses para retirar o dinheiro. Para Leandro Martins, o investidor deve aceitar papéis que paguem no mínimo 95% do CDI.
POUPANÇA (INVESTIMENTO RUIM)
Apesar de ser isenta de Imposto de Renda e taxas de administração, a poupança perde atratividade com os juros altos, pois sua remuneração é fixa em 0,5% ao mês mais TR.
"Não faz nenhum sentido investir nela, já que com o mesmo risco você compra um CDB que te dá um retorno de 14% ao ano", diz Celson Plácido.
Pode ser usada só para o dinheiro do dia a dia, e por um período curto de seis meses, mas não deve ser utilizada como investimento. Tem a segurança do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que paga até R$ 250 mil para o investidor se o banco quebrar.
AÇÕES (RUIM)
O desenrolar do processo de impeachment será fundamental para o desempenho da Bolsa, acreditam os analistas.
Segundo eles, uma definição dos rumos da política e da economia poderia animar os investidores a comprar ações. Mas enquanto a situação permanece indefinida e a taxa de juros estiver elevada, o risco para investir no mercado de ações é cada vez mais alto.
"Só aconselho para investidores com perfil extremamente agressivo", diz Celson Placido. "Os demais devem evitar até fundos de ações."
Michael Viriato e Leandro Martins afirmam que é possível encontrar boas oportunidades de investimento com o mercado em queda. Amerson Magalhães aconselha a investir em fundos para diluir o risco.
DÓLAR (RUIM)
Não é recomendado como investimento. Os especialistas aconselham a comprar a moeda apenas se for viajar. Nesse caso, a compra deve ser feita aos poucos, para diluir o risco do preço.
Para quem quer ter algum investimento atrelado ao dólar, há a opção dos fundos cambiais e fundos nacionais que aplicam na moeda estrangeira.
FUNDOS IMOBILIÁRIOS (RUIM)
São condomínios de investidores em imóveis. O patrimônio pode ser composto de imóveis comerciais, residenciais, rurais ou urbanos, construídos ou em construção, que serão vendidos, alugados ou arrendados.
Segundo Celson Plácido, quanto maior a taxa de juros e a inflação, menor o retorno do fundo, o que desestimula os investidores.
"As pessoas investem em imóvel achando que é seguro, mas, quando aplicam num fundo imobiliário, percebem que sobe e desce, como renda variável", diz Michael Viriato.
Ainda que há risco de a lei mudar e cobrarem IR, mas isso não é certo ainda.
IMÓVEIS (RUIM)
Em 2016, imóvel deve ser bom só para quem quer morar, não investir. O aluguel rende em geral 0,5% do valor do imóvel. Na renda fixa, consegue-se 1%, diz Magalhães. O aluguel de um apartamento de R$ 1 milhão daria R$ 5.000. Se investisse R$ 1 milhão na renda fixa, conseguiria o dobro, R$ 10 mil.
Ainda há os custos enquanto o imóvel estiver desocupado: IPTU, condomínio e manutenção.