Por Louise Bragado
Criada no Brasil em 2018 pelo húngaro Mate Pencz e o alemão Florian Hagenbuch, a Loft rapidamente alcançou o valuation de US$ 1 bilhão, com apenas 16 meses de operação, em janeiro de 2020. A startup de transações imobiliárias online foi o 11º unicórnio brasileiro e o primeiro daquele ano, que marcaria o início de um período desafiador para as empresas -- com incertezas econômicas decorrentes da pandemia de Covid-19 e um cenário de alta global nos juros, que acabou freando investimentos em startups nos anos seguintes.
Em seis anos de mercado, a Loft se reinventou algumas vezes. Passou de um negócio focado exclusivamente na compra, reforma e venda direta de imóveis para um marketplace de anúncios de propriedades e fornecedora de tecnologia para imobiliárias parceiras. Recentemente, a empresa também lançou um programa de aceleração para imobiliárias tradicionais que precisam reinventar seus modelos de operação.
Confira a seguir a história da empresa.
Fundação e início do negócio
A Loft não é o primeiro negócio de Pencz e Hagenbuch juntos. Eles já haviam sido sócios, anteriormente, na Printi, plataforma online de serviços de impressão via internet, que foi comprada, em 2016, pela empresa americana Vistaprint, por R$ 60 milhões.
Depois de saírem do negócio, os dois começaram a analisar o mercado em busca de um nicho onde a tecnologia pudesse oferecer soluções até então indisponíveis ao consumidor. Em entrevista a Época NEGÓCIOS em novembro de 2021, Penc relata que a dupla observou vários setores antes de decidir.
"Nossa ideia era encontrar um mercado com características parecidas com o da indústria gráfica, ou seja, que tivesse uma grande fragmentação, com muitas empresas operando sem transparência e confiabilidade. Um mercado grande, mal atendido e com possibilidade de consolidação. Enxergamos isso no setor imobiliário", contou o executivo.
O primeiro modelo de operação funcionava da seguinte maneira: a Loft comprava apartamentos usados, fazia reformas com empreiteiros parceiros e revendia-os por valores até 45% maiores que o preço original. No início, a Loft operava com imóveis de alto padrão em bairros luxuosos da capital paulista - propriedades no valor de cerca de R$ 1 milhão, em bairros nobres como Jardim América, Jardim Paulista, Itaim Bibi e Vila Nova Conceição.
"A estratégia da startup foi, em primeiro lugar, estabelecer nossa marca em uma região, para demonstrar que nosso modelo funcionava de ponta a ponta, mesmo em um mercado tão complexo", disse Pencz, em outra entrevista.
Expansão
O modelo inicial avançou para outros bairros de São Paulo e expandiu também para outras cidades, como Rio de Janeiro, Porto Alegre, Florianópolis e Belo Horizonte. Hoje, se mantém como um braço dentro da empresa, o Propriedades Loft, que abrange apenas os imóveis dos quais a Loft é dona ou administradora exclusiva.
A empresa adicionou à sua operação outros negócios, tais como o seguro locatício e serviços de crédito com parceiros como a Credihome. Em fevereiro de 2020, criou um marketplace de serviços de reforma de imóveis.
Investimentos: rápidos e altos
Questionado sobre os motivos pelos quais a Loft havia se tornado um unicórnio tão rápido -- em 2020, a empresa bateu o recorde histórico entre as startups brasileiras de menor tempo de operação até atingir valor de mercado de US$ 1 bilhão, sendo depois superada pela Merama, que demorou menos de um ano --, Pencz lembrou que a Loft passou por três rodadas de captação muito rápidas, "uma atrás da outra, feitas com sucesso".
O investimento que a alçou ao grupo de unicórnios foi anunciado em janeiro de 2020, um aporte de US$ 175 milhões dos fundos Andreessen Horowitz, Fifth Wall Ventures e Vulcan Capital.
Pouco tempo depois, em abril de 2021, a Loft recebeu o que foi considerado o maior aporte da história do ecossistema de startups brasileiro, segundo dados da plataforma Distrito, que acompanha o setor. O investimento de US$ 425 milhões, aproximadamente R$ 2,3 bilhões, foi liderado pelo fundo norte-americano D1 Capital e teve participação de outras instituições de venture capital e private equity, como Tiger Global, Andreessen Horowitz, Silver Lake e Monashees.
Onda de demissões
A Loft passou por uma onda de demissões que começou em abril de 2022, com 159 funcionários dispensados. Mais tarde, em julho do mesmo ano, a empresa anunciou a demissão de pelo menos 380 pessoas, o que na época correspondia a 12% do seu quadro de 3,2 mil funcionários. A Loft alegou que a medida fazia parte do processo de reorganização da sua operação.
Em dezembro, houve uma terceira rodada de cortes, quando foram demitidas 312 pessoas, o que levou a um total de 855 funcionários demitidos em 2022.
Em março de 2023, a empresa demitiu mais 340 pessoas, ou 15% de seu quadro de funcionários, citando adequação de custos no ambiente econômico da época.
Chegada ao break-even
Em dezembro do ano passado, o Grupo Loft anunciou que atingiu o break-even, depois de pouco mais de 5 anos da sua fundação.
“A nossa grande conquista neste ano foi manter um sólido crescimento, combinado com o atingimento da rentabilidade”, afirmou Pencz, em nota, à época.
O anúncio sucedeu uma mudança de estratégia da companhia, passando a focar mais no mercado B2B e na parceria com as imobiliárias. “Priorizamos acelerar o negócio das imobiliárias por meio de tecnologia e dados em todas as unidades de negócio, e despriorizamos algumas iniciativas, como a compra, reforma e venda de imóveis próprios”, disse o COO da companhia, Marcel Regis.
Durante o ano passado, o Grupo Loft consolidou sua estrutura de negócios em dois pilares voltados às imobiliárias: a plataforma Loft - composta pelo marketplace e o sistema operacional [CRM] -, e os serviços financeiros.