O mercado imobiliário em Niterói continua a sofrer com a crise, apontam dados do Índice FipeZap. O indicador, que analisa a variação no preço de venda do metro quadrado em 20 cidades do país, aponta Niterói como o município que teve a segunda maior queda nos últimos 12 meses. Comparando maio deste ano com igual período de 2016, a redução foi de 2,56%, atrás apenas de Goiânia, que teve redução de 2,8% no preço médio. Em janeiro, a cidade era a terceira pior entre as 20. A diminuição se dá dentro de um cenário de aumento sensível no preço das habitações nas cidades analisadas: de acordo com o índice, a média de valorização do metro quadrado foi de 0,46%. A pedido do GLOBO-Niterói, a Zap Imóveis verificou a variação por bairro. A queda mais forte se deu em Boa Viagem, que em maio de 2016 tinha o metro quadrado mais caro da cidade: R$ 9.369.
Agora, o valor é de R$ 8.400, queda de 10,3% em 12 meses. Enquanto isso, Charitas se valorizou em 2% e voltou a ser o metro quadrado mais caro de Niterói (R$ 9.425). Além de Boa Viagem, tiveram queda expressiva São Domingos, que apresentou baixa de 9,9%, com o metro quadrado a R$ 5.791; Centro, com redução de 9% no valor , para R$ 5.630; e Santa Rosa, com queda de 5%, para R$ 6.222.
— Houve uma queda mais expressiva agora no bairro de Santa Rosa. O que ocorre é que, como se trata de um bairro que oferece muita mobilidade, farto comércio e proximidade de escolas, proprietários resistiram por mais tempo a baixar os preços, mesmo em meio à crise — afirma a corretora Silmara Alves, da Lopes Self.
Apesar da diminuição no preço dos imóveis, Niterói ainda é uma cidade cara para se morar. O município tem o quarto metro quadrado mais caro dentre as cidades analisadas pelo FipeZap: o valor é de R$ 7.302. Fica atrás apenas de três capitais: Brasília (R$ 8.435), São Paulo (R$ 8.683) e Rio de Janeiro (R$ 10.131). A queda, porém, foi geral. Nenhum dos municípios teve valorização acima da inflação, de 3,75% no período. Para Silmara, a redução é benéfica:
— A queda e o ajuste nos valores dos imóveis neste primeiro semestre em relação ao ano passado acabaram contribuindo consideravelmente para o aumento das vendas em nosso mercado nos primeiros meses de 2017.
Para o presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Niterói (Ademi-Niterói), Bruno Serpa Pinto, o mercado está bom para quem quer comprar moradia, mas a tendência seria, novamente, de aumento nos preços.
— Niterói tem um baixíssimo estoque de imóveis novos. Desde 2015 não é feito nenhum lançamento na cidade, quando a média era de 28 empreendimentos por ano. Hoje, há um estoque de mil unidades, e o normal seriam três mil. A lei da oferta e procura vai forçar um aumento em breve — prevê.
De acordo com Serpa Pinto, como em média um empreendimento demora três anos para ser concluído, atualmente estão sendo entregues as últimas unidades lançadas em Niterói em 2014. Segundo ele, já está em curso um processo de elevação nos preços devido ao baixo estoque de moradias. O executivo dá como exemplo o bairro de Icaraí, que a pesquisa da Zap Imóveis aponta como o mais procurado pelos usuários do site no município:
— A população de Icaraí é de 82 mil pessoas para 32 mil domicílios, é a região com maior número de habitações na cidade. Hoje, temos lá um estoque de 180 unidades novas. É muito baixo para um local com tamanha procura.
Impacto do túnel ainda não é sentido - O derretimento no preço dos imóveis em Niterói não é um fenômeno recente. A trajetória é descendente desde dezembro de 2014, indicam os números do FipeZap. No dia a dia dos corretores, o que se vê é muita oferta para pouca procura. Para Tadeu Generoso, gerente de vendas da Carvas Imóveis, corretora que atua no município, o que está acontecendo é um reajuste dos valores dos imóveis ao seu “patamar real.”
— Os preços despencaram. Hoje, para cada cliente, você tem 200 imóveis à venda — afirma ele. — Está ao contrário do que era há cerca de dois anos e meio. Os imóveis que eram vendidos a R$ 800 mil estão cotados hoje a R$ 600 mil, e nesse caso estamos falando de apartamentos em Icaraí e Jardim Icaraí. O mercado parou. As construtoras estão descontando valores porque precisam esgotar o estoque e pagar aos bancos.
Para Generoso, nem mesmo a inauguração do Túnel Charitas-Cafubá impactou no valor dos imóveis da Região Oceânica:
— Por enquanto, não alterou nada. Nem na Região Oceânica, nem em Icaraí, nem em Charitas. A esperança do pessoal do Cafubá era valorizar, mas até agora isso não aconteceu.
Para o presidente da Ademi, a valorização dos terrenos na Região Oceânica deve começar a ser sentida em breve:
— A Região Oceânica está para Niterói como a Barra da Tijuca esteve para o Rio. É o grande viés de crescimento para os próximos anos. Com o túnel, criou-se uma facilidade de mobilidade e uma perspectiva de um projeto de planejamento urbano no futuro.