Bairros localizados fora da área central de São Paulo, como Tatuapé e Mooca (zona leste), Sacomã e Jabaquara (zona sul), Santana, Tucuruvi e Pirituba (zona norte), estão entre os que mais registraram vendas de apartamentos neste ano na capital paulista.
Mais do que isso, essas são também algumas das regiões com os maiores aumentos no volume de unidades negociadas em relação ao mesmo período (janeiro a abril) de 2019, primeiro ano com dados da prefeitura disponíveis. O intervalo permite a comparação com o período pré-pandemia.
A maior oferta de terrenos nessas áreas, os altos preços no centro expandido e os efeitos do Plano Diretor de 2014 são algumas explicações de especialistas para esse movimento.
O levantamento é baseado no Ranking da Demanda Imobiliária, lançado pela startup Loft e antecipado à Folha, que mostra o volume de transações efetivadas em 118 bairros do município de São Paulo. Os dados são tabulados a partir dos registros do ITBI (Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis) divulgados pela prefeitura.
A Vila Andrade, na zona sul, lidera as vendas de apartamentos, com 547 unidades neste ano –o bairro já aparecia no topo da lista há quatro anos, após uma explosão imobiliária provocada pelo prolongamento da Linha 5-Lilás do metrô, concluída em 2019.
Na sequência, aparecem Tatuapé (478 unidades), Bela Vista (467), Sacomã (338), Perdizes (333) e Mooca (330).
Dentre os campeões de vendas, Tatuapé e Mooca também chamam atenção pelo crescimento em relação ao período pré-pandemia. O Tatuapé subiu da 4ª para a 2ª colocação no ranking, com um aumento de 29,2% nas transações. Já a Mooca teve um salto de 46,7% e saiu da 14ª para a 6ª posição.
Outro destaque é Jabaquara, com 315 apartamentos vendidos neste ano e um aumento de 47,2% na comparação com 2019. O bairro subiu da 15ª para a 8ª colocação no ranking.
O incentivo às habitações mais próximas aos eixos de mobilidade urbana –corredores de ônibus e estações de metrô e trem– foi uma das marcas do Plano Diretor Estratégico de São Paulo de 2014. A nova revisão foi aprovada em primeiro turno nesta quarta-feira (31) na Câmara Municipal.
O objetivo do plano era adensar esses eixos, concentrando uma maior parcela da população em áreas de melhor acesso, com a finalidade de reduzir o trânsito e diminuir o espraiamento da metrópole.
"Esse aumento está diretamente relacionado ao direcionamento dado pelo Plano Diretor, além da oferta de terrenos a preços mais baixos em determinadas regiões", avalia a urbanista Viviane Rubio, professora da Universidade Mackenzie.
"O objetivo era promover o equilíbrio da ocupação da cidade e, assim, oferecer habitação nas áreas servidas por transporte público para a população de menor renda, mas isso não vingou", acrescenta.
"São áreas atrativas, próximas a regiões centrais, que oferecem fácil acesso a vias de transporte e transporte público, além de proximidade a polos de emprego, como o centro antigo ou a região da Avenida Paulista, e serviços", diz Rodger Campos, gerente de dados da Loft.
Uma das regiões com aumento mais significativo foi Pirituba, que deu um salto suficiente para ficar entre os 20 bairros com mais apartamentos negociados. O crescimento foi de 89,7%.
O caso de Pirituba também chama atenção porque o bairro aparece apenas no 65º lugar quando o assunto é o preço médio do metro quadrado (R$ 6.387). Jabaquara (R$ 6.640), Sacomã (R$ 6.471) e Campo Limpo (R$ 6.092) são outros exemplos de áreas bem posicionadas em vendas e que aparecem mais abaixo em termos de custo.
Além de Pirituba, outra novidade entre os bairros com mais vendas é Tucuruvi, também na Zona Norte. A região registrou 43,6% mais transações neste ano, pulando da 24ª para a 14ª colocação no ranking de demanda.
No sentido contrário, os bairros que passaram a vender menos foram Aclimação e Vila Olímpia. O primeiro caiu da 18ª para a 21ª posição do ranking, e o segundo despencou do 19º para o 30º lugar.
"De forma geral, é um fenômeno muito ligado ao aumento do preço dos imóveis. Terreno, material de construção, mão de obra, tudo isso foi subindo, acumulando, e o custo do metro quadrado foi elevado", diz Gustavo Favaron, presidente do GRI Club, uma plataforma de relacionamento do mercado imobiliário. Segundo ele, também pesou ao consumidor o aumento da taxa de juros do financiamento imobiliário.
Segundo o ranking, os preços mais caros de metro quadrado da capital estão no Jardim América, R$ 23.611, e no Jardim Europa, R$ 20.667.
Favaron também menciona a diminuição do tamanho dos apartamentos, especialmente na Zona Sul, o que explica parte do aumento das vendas em alguns bairros da região. "Vendeu-se bastante porque o preço em geral subiu e as pessoas começaram a comprar unidades cada vez menores."
