As vendas de cimento caíram 6,8% em julho, na comparação com o mesmo mês do ano passado, informou nesta segunda-feira (8) o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (Snic). Foram comercializadas 5,5 milhões de toneladas no mês.
O despacho diário de cimento por dia útil foi de 234,5 mil toneladas em julho, o que representa queda de 2,6% na comparação anual. Ao juntar os despachos entre janeiro e julho deste ano, a queda é de 3,3% em relação ao mesmo intervalo no ano passado.
Segundo a entidade, o aumento no preço dos insumos da indústria do cimento, principalmente do coque de petróleo, aliado a um cenário econômico difícil no país, tem prejudicado as vendas do setor e deve continuar afetando o volume comercializado nos próximos meses.
“A desaceleração do crescimento global, o aumento das taxas de juros no âmbito nacional e internacional e as incertezas na economia brasileira, sinalizam um final de ano pouco otimista para a indústria de cimento, que prevê uma queda nas vendas em 2022”, afirma Paulo Camillo Penna, presidente do Snic, em nota. A entidade espera uma redução de 1% a 2% nas vendas para o ano, o que representaria de 600 mil a 1,2 milhão de toneladas a menos.
Para setor imobiliário, por exemplo, que responde por 70% das vendas de cimento no país, as notícias mais recentes têm sinais opostos. O Snic pontua como positiva as mudanças anunciadas no programa habitacional Casa Verde e Amarela, como a extensão do prazo do financiamento e a liberação do uso do FGTS para pagar parcelas do crédito, que “têm potencial de elevar as vendas e lançamentos desse segmento”. Por outro lado, o aumento da Selic para 13,75% ao ano desfavorece o acesso ao financiamento imobiliário pelos consumidores que não se encaixam no programa.
Inflação preocupa e construtoras planejam reduzir os lançamentos no terceiro trimestre
,É o que revela pesquisa do Santander com empresas do setor, a visão da maior parte delas ainda é positiva — mas o sentimento está “ligeiramente deteriorado”
As prévias e os balanços das construtoras permitem que os investidores olhem para uma fotografia do desempenho trimestral das companhias. Mas, como toda imagem, o retrato captura um momento do passado.
Para possibilitar ao mercado um vislumbre do futuro, o Santander conversou com empresas do setor e atualizou nesta segunda-feira (8) os resultados de sua pesquisa sobre as perspectivas das construtoras para o terceiro trimestre.
O banco consolidou as respostas de 30 companhias listadas e não listadas e chegou à conclusão que a visão da maior parte delas ainda é positiva — mas o sentimento está “ligeiramente deteriorado”.
Menos lançamentos e margens estáveis
“Observamos um aumento no número de empresas que planejam diminuir a quantidade de lançamentos frente à deterioração das expectativas de crescimento das vendas para os próximos 12 meses”, escrevem os analistas, em relatório divulgado hoje.
Além disso, cerca de 46,6% dos participantes estimam que os projetos desenvolvidos durante este ano terão uma rentabilidade menor do que os lançados nos últimos 24 meses.
“Como consequência, a maioria dos entrevistados projeta margens brutas estáveis, na melhor das hipóteses, nos próximos 12 meses”, cita o banco.
Os principais vilões das construtoras
A maior fonte para o pessimismo observado nas construtoras ainda é a perspectiva de aumentos adicionais nos preços das matérias-primas. A preocupação com a inflação nos insumos construtivos foi apontada por 43,3% dos participantes.
Vale destacar que a maioria das empresas procuradas pelo Santander opera na capital paulista e na região metropolitana. Apenas 13,3% das construtoras estão no interior de São Paulo, enquanto outros 23,3% são de fora do estado.
“A acessibilidade financeira é a segunda maior preocupação, citada por 23,3% dos participantes”, diz o banco. Mas a instituição também reforça que mais da metade das empresas acredita que ainda há espaço para novos aumentos de preços no próximo ano.
Distratos não preocupam construtoras
Os distratos, por outro lado, seguem como uma das preocupações menos relevantes para as companhias.
Os analistas acreditam que, para o grupo que trabalha com o segmento de média a alta renda, essa tranquilidade está associada ao fato de que a maioria das unidades que serão entregues nos próximos 12 meses foram lançadas em 2020.
“Essa ‘safra’ teve uma significativa valorização do custo dos materiais, o que implicou em LTV menor do que o das unidades lançadas em 2021-22, pois a alta abrupta do INCC levou muitos consumidores a acelerarem os pagamentos durante a construção”, explica o banco.
O LTV, ou loan-to-value, determina qual porcentagem do valor total de um ativo poderá ser paga por meio de um financiamento ou concedida em empréstimos com garantia de imóvel, por exemplo.
Ou seja, quanto menor o LTV, menor a parcela financiada dos empreendimentos. Um financiamento mais baixo implica em menos dificuldades para os compradores e menos risco de cancelamento para as empresas no cenário atual, com a taxa Selic em patamares elevados.
Já para as incorporadoras voltadas para a baixa renda, os analistas afirmam que a preocupação é ainda menor. “As companhias conseguem vender unidades devolvidas a preços mais elevados, obtendo melhor rentabilidade, como é o caso da Tenda (TEND3)”, argumentam.
Matéria publicada em 08/08/2022