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08/04/2020

Venda de cimento pode voltar à estaca zero com a covid-19

No trimestre, entregas do produto tiveram queda de 0,3% devido às chuvas e à pandemia; em março, ainda empataram

A indústria de cimento - que começou 2020 com a perspectiva de crescimento de 3,6% em seu cenário de referência para este ano - terá, na melhor das hipóteses, desempenho semelhante ao de 2019 em decorrência da pandemia de covid-19. É o que avalia o presidente do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC), Paulo Camillo Penna.

“Os números atuais não me autorizam a pensar em nenhum dado positivo para o ano”, disse Penna ao Valor. Ainda não é possível, segundo o executivo, definir nova projeção para o ano.

 

No primeiro trimestre, as vendas domésticas de cimento tiveram queda de 0,3%, em relação aos três primeiros meses do ano passado, para 12,635 milhões de toneladas. Em janeiro, o consumo caiu 0,9% e, em fevereiro, diminuiu 0,5%, devido ao excesso de chuvas. “Nossa avaliação era que tinha havido represamento das vendas e que, em março, haveria crescimento efetivo”, conta o presidente do SNIC.

Nas duas primeiras semanas do mês, o desempenho superou as expectativas, segundo Penna. Com a disseminação da covid-19 mais o anúncio da quarentena e de medidas restritivas ao comércio varejista e, em alguns casos, à continuidade de obras não públicas, houve forte retração. As vendas do insumo - 4,05 milhões de toneladas - ficaram estáveis, na comparação com março de 2019, e tiveram redução de 0,5% ante fevereiro.

“Alguns estados proíbem venda na ponta, outros não. O tratamento diferenciado, no Brasil inteiro, impede uma visão mais clara do porvir”, afirma o executivo. Em alguns mercados, já houve forte desaceleração das atividades das concreteiras, devido à menor demanda por cimento para a autoconstrução. Por dia útil, houve queda de 10,4% na comercialização, em março, em base anual, e de 15% na comparação com fevereiro.

 

Apenas na região Sudeste, houve expansão de vendas, de 4,6%, no mês passado, puxada pela demanda para edificações comerciais. Na região Norte, foi registrada queda de 9,2%; no Nordeste, redução de 2,6%; no Centro-Oeste, recuo de 4,8% e, no Sul, 4,3%.

Penna compara que, na greve dos caminhoneiros, em 2018, o setor deixou de vender 900 mil toneladas de cimento, o correspondente a 1,7% das vendas do período de junho de 2017 a maio de 2018. No primeiro trimestre, o setor comercializou 717 mil toneladas a menos do que a projeção para o período, o correspondente a 1,3% da estimativa anual. “Perdi 1,3% em algo [a pandemia do coronavírus] que apenas começou”, diz o presidente do SNIC. Segundo ele, a partir de abril, será possível ter visão mais clara da situação.

Em janeiro, quando a disseminação do coronavírus ainda não era considerada nas projeções, a entidade estimava que, em um ambiente otimista, a expansão das vendas de cimento chegaria a 5,1% e, em um cenário pessimista, se limitaria a 2,2%. No ano passado, o consumo de cimento interrompeu quatro retrações consecutivas e cresceu 3,5%, para 54,5 milhões de toneladas. Entre 2015 e 2018, houve queda acumulada de 27% das vendas do insumo, para 52,8 milhões de toneladas.

 

O presidente do SNIC afirma que é necessário manter atividade mínima do setor. “Mas não defendo nenhum tipo de medida irresponsável”, ressalta Penna. Segundo ele, as indústrias de cimento não estão realizando demissões. “O setor está antecipando manutenções programadas e utilizando recursos como bancos de horas, ‘home office’ e férias coletivas.”

O representante setorial disse também ter “imensa preocupação” com o crédito para cadeia de distribuição de materiais de construção. “Há uma enorme dificuldade para se fazer chegar à ponta o crédito disponível pelo BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social]. Os bancos privados estão cobrando taxas absurdas e fazendo exigências descabidas neste momento”, diz Penna.

Segundo o dirigente, as revendas representam 61% da demanda por cimento. “O varejo precisa ter um reforço de crédito senão não terá como vender para o consumidor”, diz. A maior parte das varejistas de materiais de construção são pequenas e médias empresas.

FONTE: VALOR ECONôMICO