Lucas Hirata e Luiz Guilherme Gerbelli
As vendas de imóveis novos na cidade de São Paulo registraram queda de 50,1% em setembro na comparação com o mesmo mês do ano passado, de acordo com dados do Secovi-SP (Sindicato da Habitação) divulgados ontem. Foram vendidas 1.392 unidades.
A forte oscilação ocorreu por causa da elevada base de comparação. Em setembro do ano passado, foram vendidas 2.787unidades – nos quatro últimos meses de 2014, o número de vendas e de lançamentos cresceu pela demanda reprimida causada pela Copa do Mundo.
Apesar da distorção, o setor sente os efeitos da crise. Entre janeiro e setembro, foram comercializadas 13.698 unidades, com recuo de 4,7% em comparação ao mesmo período de 2014. O número é o mais baixo desde 2004, quando teve início a série histórica. Na comparação com agosto, a queda foi de 13,3%.
“Estamos sentindo a desaceleração da economia desde o ano passado. Até 2013, o nosso setor era um mundo à parte da economia, mas agora temos segurança de que fazemos parte do mundo”, afirma Celso Petrucci, economista-chefe do Secovi-SP.
Os lançamentos também tiveram forte recuo. De acordo com dados da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp), foram lançadas 1.057 unidades residenciais na capital paulista em setembro, uma redução de 74,3% na comparação como mesmo mês do ano passado e de 39,9% ante agosto. No acumulado do ano, o número de lançamentos também recuou para o menor patamar da série histórica.
“A analogia que eu faço é a seguinte: existe um braço de ferro entre a necessidade de comprar o imóvel e o nível de confiança na economia do País. Por enquanto, quem está ganhando é o baixo nível de confiança”, diz Petrucci. “Como os outros segmentos, estamos esperando uma saída institucional para sairmos dessa crise.”
Desaceleração - Os números divulgados ontem se somam a outros indicadores que apontam a piora no setor. O crédito imobiliário, por exemplo, recuou 25,3% nos nove primeiros meses deste ano ante o mesmo período do ano passado. Segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), entre janeiro e setembro, o financiamento imobiliário recebeu R$ 62 bilhões.
“O Brasil está em crise, o que afeta a confiança. Há menos renda por causa do desemprego e todos os setores sentem essa piora, incluindo o imobiliário”, afirma Eduardo Zylberstajn, pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). “Existe também o nó da poupança, trazendo ainda mais incerteza e restrição ao crédito.” A poupança é uma das principais fontes de sustentação do crédito imobiliário no País, mas, neste ano, os brasileiros já retiraram R$ 57 bilhões do investimento.
Oferta - A cidade de São Paulo encerrou setembro com uma oferta de 26.195 unidades disponíveis para venda, o menor volume deste ano. O maior nível de oferta de 2015 ocorreu em maio, quando havia 28.118 unidades. Desde então, a pesquisa vem apontando queda nas unidades ofertadas não vendidas.