O desempenho da indústria de materiais de construção poderá ser inferior, neste ano, do que o inicialmente previsto. O setor ainda não revisou as projeções, mas lançamentos imobiliários abaixo do esperado no primeiro semestre em São Paulo - maior mercado imobiliário do país -, a piora do cenário macroeconômico, as reduções de estimativas do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil e vendas abaixo dos volumes esperadas em maio tendem a resultar em piora das estimativas das fabricantes.
Nos próximos dias, as indústrias do cimento vão reavaliar suas projeções para o ano, segundo fonte ouvida pelo Valor. Inicialmente, o setor trabalhava com projeção de alta de 1% a 2% ante 2017. Dados do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC) apontam que as vendas domésticas do insumo caíram 0,3%, de janeiro a abril, para 16,97 milhões de toneladas. No fim de maio, como consequência da greve dos caminhoneiros, menos de 3% do volume médio de cimento estava sendo expedido.
A partir do dia 20 de maio, quando os números dos fabricantes de revestimentos cerâmicos forem consolidados, a Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos, Louças Sanitárias e Congêneres (Anfacer) avaliará se mantém estimativa de crescimento de 4,8% a 5% das vendas neste ano.
Há expectativa, de acordo com o diretor-superintendente da Anfacer, Antônio Carlos Kieling, que as vendas do setor tenham ficado, em maio, de 25% a 30% abaixo do que as projeções dos fabricantes, devido à greve dos caminhoneiros. Até abril, as vendas domésticas de revestimentos cerâmicos cresceram 2,8%, para 224,1 milhões de metros quadrados. As vendas totais aumentaram 4%, para 255,8 milhões de metros quadrados.
Segundo o vice-presidente comercial da Cecrisa, Paulo Benetton, no acumulado de janeiro a maio, a empresa - terceira maior do revestimentos cerâmicos do país - obteve expansão de vendas entre 18% e 19%. A projeção para o ano, ainda não revista, é de crescimento de 15% a 18%, com base em ganho de participação de mercado pela melhora do mix de produtos e de aumento dos canais de distribuição.
Isoladamente, as vendas da Cecrisa, em maio, ficaram 4% abaixo das de abril. "O desempenho só foi melhor do que o de janeiro e o de fevereiro, que são meses ruins", compara Benetton. Na terça-feira, a empresa retomou sua operação à plena capacidade, após ter chegado a suspender a totalidade da produção por quatro dias devido ao desabastecimento de insumos por causa da greve dos caminhoneiros.
Neste ano, o faturamento da fabricante de duchas, chuveiros elétricos, metais sanitários e purificadores de água Lorenzetti pode crescer menos do que o inicialmente previsto, segundo o vice-presidente executivo Eduardo Coli. A projeção é de alta de 10% ante o faturamento de R$ 1,28 bilhão de 2017, mas o executivo avalia que a expansão deve ser de cerca de 8%.
Entre os fatores apontados por Coli estão a redução das estimativas de crescimento do PIB do Brasil, o fato de o setor de construção civil não estar se recuperando como esperado, o desemprego ainda elevado e a desvalorização do real. "Mas vamos continuar a perseguir os 10%", diz o executivo.
Até maio, as vendas da Lorenzetti cresceram 7%, dentro das expectativas para o período. Os meses de maior comercialização de chuveiros são junho, julho e agosto. Segundo o vice-presidente, como a empresa tinha estoque de matérias-primas, sua produção praticamente não foi afetada pela greve dos caminhoneiros.
Por enquanto, a Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) está mantendo sua projeção de aumento do faturamento deflacionado do setor de 1,5%, neste ano.