Em todo o Brasil, aumentou em 30% em 2022 a venda de imóveis menores e com apenas um dormitório. É um fenômeno que já ocorreu em outros países e no Brasil é acelerado pela queda de renda e custo mais alto da moradia.
Não é sempre que o Rafael recebe visita em casa e é pelo espaço mesmo. Ele mora em um apartamento de 18 m² nos Jardins, região central de São Paulo.
“Acho que é um novo estilo, não tanto assim que a gente quer, mas é o que a gente necessita hoje em dia. Tem que adotar um estilo mais minimalista, então aquela coisa que você não usa você descarta, doa, então é muito disso”, relata o executivo Rafael Pedrotti.
O prédio foi construído em uma das áreas mais valorizadas de São Paulo e está praticamente em cima de uma estação do metrô e tudo isso tem um custo alto. Hoje, os apartamentos de 18 m² são vendidos a R$ 500 mil. O aluguel com condomínio custa quase R$ 5 mil por mês.
Fazer apartamentos pequenos tem sido um bom negócio para as construtoras. O número de imóveis com poucos metros e um dormitório vem crescendo no país. Aumentou 30% comparando o primeiro trimestre de 2022 com o mesmo período de 2021.
“Eles miram exatamente em um público mais jovem, ou que mora sozinho, ou que é um casal que não tem filhos, é um público que acostumou-se a usar serviços fora de casa, como lavanderia, cozinha, tudo isso”, explica o presidente da CBIC, José Carlo Martins.
Para morar nos microapartamentos a pessoa precisa adaptar a rotina e aproveitar cada espaço. E para dividir o lugar, é preciso intimidade porque banheiro e box são fechados com vidros transparentes. E o espaço principal é uma mistura de sala de TV com quarto e sala de jantar. O apartamento de 10m² , que fica no Centro de São Paulo, custa em média R$ 250 mil. A construtora diz que é o menor apartamento da América Latina.
Esse boom de imóveis cada vez menores não tem a ver só com um novo estilo de vida, mas também com o crescimento das cidades e com a economia do país.
“Com menor renda e o imóvel mais caro, fica mais difícil comprar um imóvel nas mesmas dimensões e pelo mesmo preço. Necessariamente você tem que diminuir o tamanho dos imóveis para caber no orçamento das famílias”, diz o professor de economia da FGV, Alberto Ajzental.
O levantamento da Câmara Brasileira da Indústria da Construção revelou também que esses apartamentos tão pequenos começam a chegar a mercados em que eram pouco comuns como os do Norte e Nordeste.
O urbanista Anderson Kazuo explica que, com o crescimento das cidades, é natural que mais gente passe a morar na mesma região e alerta que esse adensamento populacional tem que ser feito com critérios.
“Um adensamento excessivo, ele vai gerar uma sobrecarga no sistema viário e no sistema de transporte coletivo e isso pode levar a congestionamento e superlotação também. Então, a gente hoje precisa avançar muito em promover adensamento, que é uma pauta necessária nas nossas cidades, mas trazer junto esses critérios de qualidade”, aponta Anderson Kazuo.
Matéria publicada em 27/07/2022