Chiara Quintão
A menor demanda de materiais de construção pelas atividades de incorporação imobiliária e de infraestrutura pode resultar no encolhimento de 10% do faturamento, deflacionado, da indústria neste ano, para R$ 152 bilhões. Em termos reais, o faturamento dos fabricantes de materiais retornará ao nível de 2008, segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), Walter Cover. A projeção considera a inflação medida pelo Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) de materiais apurado pela Fundação Getulio Vargas (FGV).
Para 2016, a entidade estima queda de 4%, o que, se confirmado, resultará no terceiro ano consecutivo de recuo dessa indústria.
Oficialmente, a Abramat revisou, na semana passada, a estimativa da queda de vendas de materiais, em 2015, de 7% para de 9%, mas, na avaliação de Cover, o recuo poderá ser ainda maior. O presidente da entidade estima queda de 20% para o segmento de infraestrutura, 13% para o mercado imobiliário e 6% para o varejo.
No acumulado de janeiro a junho, as vendas de produtos de acabamento caíram menos do que as dos itens de base, na mesma base de comparação de 2014. O resultado é fruto das entregas de empreendimentos, mas a situação se inverteu a partir daí. Segundo Cover, isso decorre da conclusão de um ciclo imobiliário. No total de 2015, a queda dos volumes de itens de acabamento continuará superior à dos de base.
No segmento de tintas imobiliárias, as vendas físicas devem ter retração entre 5% e 6% neste ano, segundo o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Tintas (Abrafati), Dilson Ferreira. No início do ano, a Abrafati projetava aumento de 2% a 3%, estimativa que já havia sido revisada para estabilidade ou queda de até 1%. A piora nas vendas para o varejo, a partir de meados do ano, resultou na redução acumulada de 5% até setembro e em outra revisão.
A Tigre, conhecida principalmente por sua atuação em tubos e conexões, não espera queda nas vendas internas em 2015, mas substituiu a expectativa de crescimento pela de estabilidade. A manutenção do patamar ante 2014 é fruto, segundo o diretor-executivo comercial, Luís Roberto Wenzel Ferreira, dos novos produtos apresentados desde 2014 e de ganho de participação de mercado. "Estamos ocupando mais espaço nas prateleiras do varejo", diz Ferreira.
A comercialização de produtos da Tigre para o setor de infraestrutura ganhou participação em relação às vendas para o mercado imobiliário neste ano. Segundo Ferreira, o decréscimo das vendas para as construtoras acentuou-se há três meses, como resultado da redução dos lançamentos de empreendimentos nos últimos anos. Ao mesmo tempo, informou, a comercialização para o varejo também caiu. Além de materiais de base, a Tigre produz itens de acabamento, como portas e janelas de PVC. Para o próximo ano, a expectativa é de vendas estáveis.
A Saint-Gobain avalia que seu faturamento crescerá menos, em 2015, do que os 7% que projetava inicialmente para o país, e que haverá queda no volume vendido. "A conjuntura econômica mudou bastante, desde julho, o que nos levou a ajustar nossas expectativas de crescimento", diz o presidente da Saint-Gobain para o Brasil, a Argentina e o Chile, Thierry Fournier.
O executivo da Saint-Gobain pondera que, apesar do ambiente atual, há oportunidades de crescimento no setor, devido ao mix de produtos do grupo e à "constante inovação". Ele cita o potencial de expansão em mercados como o de drywall, em que o grupo atua pela Placo. As perspectivas para 2016 são que o segmento de reformas terá cenário "um pouco melhor" do que o de novas construções.
A Assa Abloy Sistemas de Segurança elevou seu faturamento em 12% até setembro, abaixo da faixa projetada de 15% a 20% para o ano. "Vamos crescer entre 12% e 15%", diz o presidente da Assa Abloy Brasil, Luís Augusto Barbosa. A sinergia com a Silvana e a Metalika, empresas adquiridas, em 2014, pela fabricante de fechaduras e dobradiças é um dos vetores da expansão e contribui para as margens.
A fabricante de duchas, chuveiros elétricos e metais sanitários Lorenzetti estima crescimento de 7% no ano se o desempenho do quarto trimestre corresponder ao planejamento para o período. "Mas acredito que a expansão ficará entre 5% e 7%, pois o mercado está parado", diz o vice-presidente executivo da Lorenzetti, Eduardo Coli.
Até o fim de julho, a Lorenzetti estimava que o faturamento aumentaria 12% neste ano. Entre 2010 e 2014, sua expansão anual superou 10% consecutivamente. A partir de agosto, as vendas de torneiras e metais sanitários tiveram queda, com a redução das entregas de prédios, segundo Coli. "As vendas de chuveiros caíram menos", diz o executivo.
O segmento de varejo de materiais de construção acumula queda de 6% até setembro. Segundo o presidente da Associação Nacional dos Comerciantes de Materiais (Anamaco), Cláudio Conz, o faturamento ficará estável, neste ano ante 2014, mas haverá retração no volume físico vendido. A expectativa inicial da Anamaco era que o faturamento cresceria 6% em 2015.