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13/01/2020

Vilas fechadas são vistas como alternativa barata a condomínios

Número de vilas cai 23% em São Paulo, mas modalidade continua atraindo moradores por segurança e tranquilidade

Quando saiu na hora do almoço para visitar um imóvel, a publicitária Rose Sousa, de 39 anos, não esperava encontrar um lugar sossegado no meio do Itaim Bibi – movimentado pólo econômico de São Paulo. Selada por um portão, a Rua Oscar Pereira da Silva é uma das 412 vilas fechadas da capital paulista, conforme levantamento da Secretaria Municipal das Subprefeituras.

“Achei o apartamento e disse: ‘Eu quero morar nessa rua’. Pela tranquilidade e por me dar sensação de mais segurança. Tem a portaria na entrada da rua, fora a do prédio. Para mim, vila já é sinônimo de coisa familiar, mais tranquila”, avalia Rose, que vive no lugar há mais de dois anos.

A vila em questão é formada por quatro prédios e três casas. Zelador e porteiro em um dos edifícios, o piauiense João de Deus Visgueira, de 63 anos, trabalha e mora no mesmo lugar há mais de 25 anos. Além da tranquilidade, ele também aponta que não há muitos conflitos e que boa parte dos moradores se conhecem.

Fim de tarde, por exemplo, é o horário de pico de passeio de crianças e pets. Foi lá, inclusive, que João criou os dois filhos, hoje adultos. Se precisar deixar do lugar, o zelador já se ressente de saudades. “No dia em que eu sair do prédio, eu vou sentir falta. Eu gosto muito de morar aqui”, diz.

O número de ruas fechadas por portões ou cancelas diminuiu 23,6%, em relação ao início de 2018, quando havia 539 vilas fechadas na capital paulista, de acordo com a Secretaria das Subprefeituras. A pasta explica que a redução pode ter ocorrido pela reabertura de algumas ruas, em decorrência de fiscalização ou a pedido de moradores.

A fiscalização da Prefeitura segue a lei municipal nº 16.439, de 2016, que dispõe sobre a restrição à circulação em vilas, ruas sem saída e ruas sem impacto no trânsito local. Com o dispositivo, ficou permitido o uso de portões, cancelas ou equipamentos similares, desde que não seja impedida a visualização do interior desses espaços.

Além disso, para quem deseja selar a rua, o processo de fechamento dura de 45 a 60 dias, e é necessário que no mínimo 70% dos moradores estejam de acordo.

 

Custos menores

Motivos mencionados não só por quem mora, a segurança e a tranquilidade também são fatores positivos elencados por quem trabalha no mercado imobiliário. A economista do Grupo Zap Deborah Seabra afirma que imóveis de vilas estão ganhando proeminência em São Paulo e que, a depender da situação, podem ter preços mais atrativos em relação a alguns tipos de empreendimentos de mesmo padrão.

“Você consegue misturar um pouco da segurança que um condomínio oferece com o fato de você viver a cidade, que é morar na rua”, diz. “E é uma opção mais barata do que morar em condomínio, porque você não conta com toda a infraestrutura que um condomínio tem, desde opções de lazer até a própria manutenção”, complementa.

A economista ainda explica que a falta de itens ou da cobrança de taxa condominial, por exemplo, reduzem o valor de venda ou aluguel. Outro ponto que alivia o bolso se deve ao fato de que as casas em vilas costumam ser geminadas, característica que impacta na privacidade dos moradores e, consequentemente, no preço.

Ainda que nas vilas a figura do síndico não seja uma constante, em geral há uma organização entre moradores para lidarem com as questões da rua. Em uma vila localizada à Rua Dona Marta, na Barra Funda, o chaveiro Cláudio Gonçalves, de 42 anos, assume o que mais próximo chega da função sindical. Orgulhoso, ele diz que cuida do local como o seu “quintal comunitário”. Lá, já plantou árvores e trata de questões como limpeza e consertos.

“Não tem taxa mensal. Eu queria que tivesse, porque não precisaria ficar pedindo ajuda. Se acontecer alguma coisa e eu não tiver dinheiro na hora, eu aciono o pessoal. Se não tiver também, eu vejo o que faço. Mas, na maioria das vezes, são poucos que ajudam”, reclama Cláudio.

Teodoro esclarece que, ainda que não haja uma despesa formal, como uma taxa de condomínio, os moradores de vila costumam se articular para definir uma espécie de tarifa a ser paga para manter despesas, como segurança, manutenção de portão ou cancela, entre outros.

“Sempre haverá algum dispêndio, mas nessas circunstâncias (da vila) é um valor bem menor do que uma taxa condominial convencional, de um local que foi construído sob a forma de condomínio fechado. E isso (baixo custo) obviamente atrai mais, com toda certeza”, pontua.

 

Prós e contras das vilas:

Custos

Taxa condominial oficialmente não existe, mas moradores em geral fazem rateio mensal para cobrir despesas em comum, como porteiro e energia

 

Vizinhos

Como em geral as casas de vila são geminadas, é comum a reclamação de falta de privacidade. Mas clima familiar é visto como ponto alto

 

Segurança

Vilas fechadas com cancelas trazem mais sensação de segurança, porém o fechamento da rua deve ser, por lei, aprovado por 70% dos moradores.

FONTE: ESTADãO