A Vórtx, uma fintech de serviços de infraestrutura para o mercado, surgiu há quatro anos e vem ganhando espaço dos concorrentes no mercado. Com forte investimento em tecnologia, tem a meta de modernizar o “back office” da indústria financeira no Brasil. Ela atua em administração fiduciária e escrituração, serviços que pouco são notados pelo investidor cliente, mas que são cruciais para a cozinha do mundo financeiro. Eles vão desde a representação de clientes ao controle de risco operacional dos produtos; análise de escrituras, publicação de prospectos; e envio de informações diárias da rentabilidade dos papéis aos clientes, entre outros exemplos.
Dois advogados que atuavam com operações estruturadas, Alexandre Assolini e Juliano Cornacchia, fundaram a Vórtx. Enquanto advogavam, perceberam que a infraestrutura de mercado ainda funcionava no modo “analógico”, apesar da revolução digital que acontecia do ponto de vista do atendimento ao cliente via plataformas de investimentos. Resolveram, então, investir nessa oportunidade de modernização.
Dados da consultoria Uqbar mostram que, considerando número de operações, a Vórtx liderou - sozinha ou ao lado de concorrentes - os ranking de agentes fiduciários em certificados de recebíveis imobiliários e do agronegócio (CRI e CRA) e também de fundos imobiliários e de direitos creditórios em 2019. Vem tomando espaço de nomes tradicionais, como Pentágono e Oliveira Trust.
A ideia foi criar uma empresa independente nesse segmento, não vinculada a outros serviços ou instituições financeiras. Para manter a independência, a Vórtx não atua em estruturação, distribuição e gestão de produtos. “Para que eu possa trabalhar na cozinha, quem me contrata precisa ter a segurança de que eu não vou usar as informações que acesso em benefício próprio nessas outras atividades”, afirma o sócio Cornacchia. “O investidor é cliente do meu cliente apenas, não é meu cliente”, diz.
Há dois anos, o empresário encontrou Marcelo Maisonnave, um dos fundadores da XP, no Vale do Silício, na Califórnia. A Vórtx buscava investidores para embalar seu crescimento. Nos meses seguintes, enquanto fazia um papel de conselheiro nessa negociação, o próprio Maisonnave acabou virando sócio, ao lado de dois outros ex-XP, Pedro Englert e Eduardo Glitz.
Cornacchia diz que os planos são crescer junto com o mercado para, no futuro, levar a Vórtx a listar ações em bolsa. O Valor apurou que a Vórtx também já chamou concorrentes para conversas sobre possíveis aquisições, o que a isolaria na liderança no segmento. O que se diz da empresa no mercado é que sim, os investimentos tecnológicos e de inovação fizeram com que a Vórtx pudesse oferecer serviços mais ágeis, cobrando menos por isso. Mas o fator determinante mesmo para o crescimento da empresa foi a expertise e a rede de contatos conquistadas pelos sócios enquanto atuavam como advogados no mercado de capitais.
Ano passado, a Vórtx contava com R$ 76 bilhões sob administração no segmento de dívida corporativa: R$ 25,5 bilhões em debêntures, R$ 29 bilhões em certificados de recebíveis imobiliários (CRI) e R$ 18 bilhões em certificados de recebíveis do agronegócio (CRA). As letras financeiras somavam R$ 2,2 bilhões e as notas comerciais, R$ 1,3 bilhão. Na área de fundos, a casa concentra R$ 13 bilhões, distribuídos em 94 fundos.
Mas a vida da empresa não foi assim tão fácil. Em julho de 2018, logo após a chegada dos novos sócios, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) suspendeu a Vórtx e mais três casas, uma gestora, uma distribuidora e uma agência de avaliação de riscos de atuar no mercado por conta de supostas irregularidades num veículo de financiamento de hotel da rede Hard Rock no Nordeste do Brasil. Após o susto, uma vez que a CVM nunca havia tomado uma atitude como essa, de penalizar antes de realizar as apurações, a suspensão apenas da Vórtx acabou sendo retirada dias depois, uma vez que não foram encontradas irregularidades na atuação da empresa.